segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Texto Argumentativo - O Uniforme: sim ou não?

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Este é o resultado de uma oficina de escrita do 11ºAno, realizada no início do ano lectivo, no âmbito do Texto Argumentativo, e que funcionou como motivação para o estudo do Sermão de Santo António aos Peixes, de Padre António Vieira. Trata-se de um tema polémico, mas actual e pertinente. Foi pedido aos alunos que defendessem cada um dos lados da questão. Eis o que produziram:
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1.
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A questão gera grande controvérsia há já bastante tempo, mobilizando alunos e as direcções de escola a tomar posições adversas num autêntico “duelo social” desnecessário. Perde-se tempo escusadamente a implicar com uma questão trivial, aumentando a sua gravidade para proporções absurdas.
Em primeiro lugar, e de uma forma geral, verifica-se que um grande número de pessoas critica o preço do uniforme, que por vezes pode ser exorbitante (um uniforme completo ronda os 200 euros). Contudo, essas pessoas esquecem-se frequentemente que com esse montante pode comprar-se todo o guarda-roupa necessário às diversas actividades e ocasiões.
Além disso, defendem a ideia de que os uniformes reduzem as pessoas a autómatos e que as tornam susceptíveis de discriminação. Apesar de os uniformes tornarem as pessoas iguais fisicamente, “não é por a roupa ser igual que os miúdos ficam uniformizados por dentro” (in Público).
Por último, a opinião dos que se opõem concentra-se no facto de não resistir às súbitas alterações da moda, tendendo a uma “existência” prolongada. Saliente-se que uma escola é um local de trabalho como qualquer outro, e não uma “passerelle”.
Em suma, o uniforme é meramente um acessório da escola, que se encontra quase sempre ligado à sua própria história e tradição. Por vezes, interrogo-me se os uniformes serão ou não serão abolidos. É uma perda de tempo preocuparmo-nos com algo tão insignificante e transitório. É necessário pensar não no que as pessoas vestem, mas no que elas são realmente!
David Conceição, 11DE
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2.
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Aqueles que falam da moda como forma de colocar rótulos nos jovens do século XXI não devem ter, certamente, dirigido um olhar atento pelos colégios privados do nosso país, onde os uniformes reinam.
É, sem dúvida, impossível ignorar esta questão que tanta polémica cria no seio da elite do ensino português.
Desde o fato completo até ao uso de somente um pólo, a verdade é que vemos cada vez mais colégios privados a proibir os seus alunos de definir o seu próprio estilo, de forma a transmitir um pouco de si próprios. Para muitos alunos, trata-se de um aspecto que lhes retira liberdade de expressão e que estabelece uma monotonia de cores e formas.
É um facto que, para qualquer adolescente, o uso da sua própria roupa e a liberdade para o fazer têm um peso considerável.
Estou certa de que a revolta contra as fardas se torna a longo prazo um foco de instabilidade e revolta entre os jovens, o que os poderá levar à contestação da autoridade.
Não pretendo com isto afirmar que os uniformes conduzem à confusão e opressão. Para muitos, estas vestimentas permitem a existência de igualdade por fora, não implicando a “uniformização por dentro”. Porém, se tal é verdade em países como Inglaterra e Japão onde este costume está difundido, o mesmo não ocorre em Portugal. Dado que nenhuma escola pública portuguesa tem uniforme, cria-se a diferença entre “os meninos do colégio” e os da escola pública. São variados os testemunhos de alunos que, saindo à rua de uniforme, são gozados e até mesmo discriminados pelos restantes. O rótulo de “betinhos” cola-se imediatamente.
É evidente que a grande maioria dos alunos de colégios privados tem condições económicas superiores aos das escolas públicas, mas é de realçar que tal não significa que o custo deste capricho seja leve em todas as carteiras.
Para terminar, ouvem-se ainda as queixas sobre a adequação dos uniformes às condições meteorológicas. No Verão sentem o calor do tecido a incomodá-los. Por outro lado, no Inverno, o uniforme é insuficiente para fazer face ao frio.
Em suma, não será esta uma prática de padronização? Instaura-se a monotonia nos nossos jovens, cria-se a diferença entre o ensino público e privado e restringe-se a liberdade individual. No mundo onde gostaria de viver não existiriam fardos ou rótulos, falta de liberdade e muito menos uniformização exterior e interior.
Ana Filipa Redondo, 11DE
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3.
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Como ponto de partida, considero interessante apresentar a definição da palavra “Uniforme”:

«adj. 2 gén. Que tem uma só forma; que não muda; que é sempre igual; idêntico em todas as suas partes; unânime; monótono/ s.m. vestuário usado por certas corporações, feito segundo o mesmo modelo ou padrão; fardamento»

Esta palavra vinda do Latim, em qualquer uma das suas acepções, está relacionada com a constância e falta de diversidade. Devo recordar que, no século XXI, são valorizadas a diferença, a originalidade, ou como actualmente se diz, a inovação. O uso de uniforme é, portanto, uma prática que se deve banir do sistema educativo.
Sem dúvida, muitas famílias da classe média e provavelmente média baixa, fazem, todos os meses, um esforço extraordinário de poupança em muitas aquisições , desde a própria alimentação à compra de vestuário ou às actividades culturais. Este esforço destina-se a permitir o investimento numa educação apropriada, de qualidade superior, apostando por isso nos colégios privados. Ora, é precisamente nos colégios privados, onde o respeito, educação e autoridade são mais evidentes, que se opta pelas “fardas”. No entanto, há colégios cujo uniforme representa um custo aproximado de 200 euros..
Por outro lado, é evidente que um aluno com uniforme demonstra pertencer a um estrato social superior, o que numa sociedade como a nossa, com níveis de desigualdade evidentes, leva a situações de atrito entre os jovens estudantes, e alguns desses atritos passam de pequenos assaltos a sequestros.
Em última análise, o que será mais importante: os bons resultados obtidos, nomeadamente na segurança dos estudantes, ou a padronização do vestuário como símbolo social?
Íris Vasquez, 11C
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4.
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O uso de uniformes escolares, algo que aparentava ter caído no esquecimento, parece ter sido recuperado, embora continue a gerar polémica e diferentes pontos de vista. As vestimentas dos estudantes, sobretudo de colégios, ressurgem padronizadas e elegantes.
De facto, os uniformes facilitam a vida de pais e crianças, aumentando a igualdade entre colegas e impedindo a discriminação relacionada com as marcas de roupa. E sem dúvida que são uma enorme ajuda económica, visto que se encontram sempre na moda. No entanto, o que fortalece a igualdade dentro de portas, intensifica a discriminação e desigualdade no mundo real.
Por outro lado, o uniforme pode transformar-se numa tentativa de padronização de crianças e adolescentes, impedindo-os de usar objectos distintivos, revelando-se, em certo sentido, um atentado à liberdade de expressão. É notório igualmente que gera discriminação entre sexos, visto que, às raparigas é imposto o uso de saia e proibido o uso de calças.
Apesar de diminuir os gastos económicos dos pais com o guarda-roupa dos filhos, os preços das vestimentas podem chegar e ultrapassar os duzentos euros, o que se torna uma exorbitância.
Além disso, pelo facto de não estarem sujeitos às tendências da moda, tornam-se antiquados e desajustados.
Em última análise, o que prometia acabar com a discriminação, não passa de uma tentativa frustrada de igualdade. É possível padronizar crianças dentro de uma escola, mas nunca será possível padronizar o mundo inteiro… e é nesse mundo que, mais tarde, essas crianças irão viver, sem uniformes que lhes valham…
Isabel Sousa, 11C

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