Os alunos do 11.º ano desenvolveram, no final do estudo do "Sermão de Santo António aos Peixes", de Padre António Vieira, uma proposta de reescrita do primeiro parágrafo do texto, sublinhando a sua dimensão alegórica. Eis três resultados:
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Vós, diz professor, mestre nosso,
falando com os alunos, sois os livros do pensamento, e chama-lhes os livros da
razão, porque quer que façam na razão o que fazem os livros. O efeito dos
livros é impedir a ignorância; mas quando na razão se vê tão ignorante como
está a nossa, havendo tantos com o ofício de livro, qual será, ou qual pode ser
a causa desta tamanha ignorância? Ou é porque os livros não informam, ou porque
na razão se não deixa informar. Ou é porque os livros não informam, e os alunos
não alimentam a razão com a verdadeira sabedoria; ou porque o pensamento se não
deixa informar, e a razão prefere a ignorância que a outra cousa que lhe deem.
Ou é porque os livros não informam, e os alunos aprendem uma coisa e fazem outra;
ou porque a razão não se deixa informar, e prefere seguir o livro à letra
ignorando o seu verdadeiro conteúdo. Ou é porque os livros não informam, e os
alunos alimentam-se a si e não à razão; ou porque o pensamento não se deixa
informar, e a razão prefere interiorizar o que lhe convém em vez de aquilo que
deve ser interiorizado. Não é isto tudo verdade? Não sabeis? Então lede, lede!
Ainda mal!
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Vós, diz Cristo, senhor nosso, falando com os alunos, sois a
luz da terra: e chama-lhes luz da terra, porque quer que façam na terra o que
faz a luz. O efeito da luz é iluminar; mas quando a terra se vê tão escura como
está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de luz, qual será, ou qual
pode ser a causa desta escuridão? Ou é porque a luz não ilumina, ou porque a
terra se não deixa iluminar. Ou é porque a luz não ilumina, e os alunos não se
esforçam por aprender; ou porque a terra se não deixa iluminar, e os homens não
garantem condições de aprendizagem aos alunos. Ou é porque a luz não ilumina, e
os alunos julgam que sabem tudo; ou porque a terra se não deixa iluminar, e os
homens julgam que os alunos não sabem nada. Ou é porque a luz não ilumina, e os
alunos não põem em prática aquilo que aprendem; ou porque a terra se não deixa
iluminar, e os homens não dão valor aos alunos. Não é tudo isto verdade? Ainda
mal!
Sara Cunha, 11º A
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Vós,
diz Cristo, Senhor nosso, falando com os alunos, sois o nascer do Sol de um
novo dia: e chama-lhes nascer do Sol, porque quer que façam no dia o que faz o
Sol. O efeito do Sol é dar início à esperança e à alegria, mas quando o dia se
vê tão escuro e triste como os nossos, havendo tantos nasceres do Sol, qual
será, ou qual pode ser a causa desta tristeza? Ou é porque o Sol
verdadeiramente não nasce ou porque o dia não deixa o Sol nascer. Ou é porque o
Sol não nasce, e os alunos não se esforçam, ou porque o dia não deixa o Sol
nascer, e a sociedade, não ouvindo os alunos, menospreza o seu contributo
futuro. Ou é porque o Sol não nasce, e os alunos imitam a sociedade atual, ou porque o dia não deixa o Sol nascer, e a sociedade se
conforma sem qualquer mudança. Ou é porque o Sol não nasce, e os alunos
ambicionam o bem e não o concretizam, ou porque o dia não deixa o Sol nascer, e
a sociedade não instrui devidamente os alunos, manipulando-os por interesses
próprios. Não é tudo isto verdade? Ainda mal!
Manuel Rocha, 11.º A